Durante anos o Burnout foi desvalorizado pela sociedade, sendo as causas atribuídas à vulnerabilidade das pessoas, pelo que as soluções se focavam no desenvolvimento de estratégias individuais de promoção da resiliência e bem-estar do indivíduo. Contudo, quando o Burnout foi oficialmente incluído, há poucos meses atrás, pela Organização Mundial de Saúde, na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), foi publicamente assumido e considerado como uma condição médica, cuja responsabilidade passou da esfera individual para a esfera organizacional.
Segundo David Ballard, Director Sénior do Departamento de Psicologia Aplicada da Associação Americana de Psicologia, “o Burnout pode ocorrer quando se está sob stress crónico no trabalho. Nós só estamos preparados para lidar com níveis aumentados de stress durante pequenos períodos. Portanto, quando estamos sujeitos a elevados níveis de stress no trabalho, durante um longo período, estamos em risco de enfrentar o Burnout”.
A Ordem dos Psicólogos Portugueses e a Associação Portuguesa de Psicologia da Saúde Ocupacional, segundo dados de 2016, estimam que 14% dos profissionais no activo, em Portugal, sofrem de Burnout e 82% estam em risco elevado de exposição à doença (Mateus, 2019).
De acordo com o estudo da Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), divulgado pelo Jornal Público em Setembro de 2018, um em cada três trabalhadores está em risco de Burnout, sendo que os profissionais em maior risco de desenvolverem esta doença são os empregados de lojas e supermercados (43%), profissionais de saúde (não médicos, 39%) e quem trabalha em serviços administrativos (37%) ou em profissões ligadas ao ensino (28%). Neste estudo, como causas, destacam-se o conteúdo das próprias funções, o facto de os trabalhadores não vislumbrarem progressão na carreira, e a (má) relação com os superiores hierárquicos. Em 1146 trabalhadores envolvidos neste estudo entre Janeiro e Fevereiro de 2018, metade dos inquiridos queixaram-se da falta de apoio por parte dos supervisores em situações de stress e um em cada quatro por parte dos colegas.
Como líder, como é que sustenta os esforços dos seus colaboradores sem os empurrar para ultrapassarem o seu ponto limite?
Aqui apresentamos 4 inovadoras e melhores práticas de RH dos líderes das empresas Great Place to Work®.
1. Permita uma pausa aos colaboradores na correria
Mindfuness at Salesforce
Os líderes hoje em dia podem ajudar os colaboradores a lidarem com o stress providenciando o descanso naturalmente no dia-a-dia do ambiente de trabalho.
Vários anos atrás, a empresa de tecnologia Salesforce foi inspirada em criar espaços permanentes de mindfulness depois de receberem aulas de meditação com um grupo de 30 Monges Budistas.
Os colaboradores podem encontrar zonas sem tecnologias e descontrair, reflectir e meditar. Nesses espaços, existem programas digitais de meditação guiada que transmitem conteúdos preprogramados vezes por hora nos iPads.
Desde cinco minutos de exercícios de respiração até vinte minutos de práticas de visualização, as meditações acontecem de segunda a sexta-feira, à volta do relógio. As sessões ocorrem em horas diferentes para que os colaboradores possam fazer encontros que aconteçam nessa hora.
Tempo Calmo no Children’s
A lua e as estrelas sinalizam o “Tempo Calmo” no Children’s Healthcare em Atlanta. Todos os dias às duas da tarde, três pisos penduram sinais azuis especiais, anunciando que é tempo de acalmar
Os colaboradores continuam a cuidar dos pacientes durante o “Tempo Calmo”, mas com um volume diferente. Os colaboradores desligam os seus aparelhos electrónicos e falam suavemente, os médicos apenas desempenham os procedimentos, e os voluntários permanecem nas áreas públicas do hospital.
Uma estudante de enfermagem criou o “Tempo Calmo” no Children’s. Ela estava a trabalhar no seu grau avançado de enfermagem quando começou a investigar o ruído nos hospitais. Ela aprendeu que os hospitais são locais barulhentos, e esse ruído aumentado pode atrasar a cura e contribuir para a provação de sono. Ela descobriu que o ruído também tem impacto nos colaboradores e pode provocar stress e burnout. Ela trabalhou com uma equipa no Children’s para desenhar um estudo de 8 semanas para avaliar se o “Tempo Calmo” poderia funcionar num ambiente de hospital pediátrico e qual o efeito que teria nos pacientes, familiares e colaboradores. O estudo indicou que o “Tempo Calmo” era benéfico para todos. Portanto, os serviços de cuidados ao paciente implementaram-no em todos os hospitais Children’s.
2. Formalize momentos para reconhecer
Reconhecer os colaboradores pelo seu trabalho árduo pode ser revigorante para eles.
Quando os clientes da empresa de serviços profissionais Crowe respondem a um questionário com o nome das pessoas que ultrapassaram ou ficaram abaixo durante os projectos, o questionário cria um “alerta de reconhecimento”. A Crowe destaca estas superestrelas nas histórias da sua newsletter, todos os meses.
A Crowe acompanha os alertas de reconhecimento com outro passo, o programa de “Pagar Adiantado”. As pessoas que recebem os alertas de reconhecimento podem “Pagar Adiantado” a outros colegas que tiveram um papel importante mas não foram mencionados.
A Crowe partilha os nomes dos dois tipos de reconhecimento para que os outros colegas possam aprender com os seus exemplos e as pessoas se sintam apreciadas.
3. Gerir o Burnout como qualquer outra medida
Se longas horas e o Burnout constituem preocupações para a organização, a medição e gestão destes devem ser tomadas seriamente em consideração, tanto como as vendas, o lucro, ou a satisfação dos clientes.
O Comité de Resiliência de um dos Hospitais de OhioHealth’s, convidaram os seus 6000 associados a participarem do Abbreviated Maslach Burnout Inventory. O inventário de 10 questões ajuda a quantificar o nível de Burnout nas pessoas.
Com a informação de 1500 respostas, o Comité identificou nove departamentos nos quais era necessário implementar estratégias de resiliência.
4. Relembrar aspectos positivos
No St. Jude Children’s Research Hospital, o Comité de Resiliência convidou os colaboradores a participarem no programa “3 Coisas Boas”, desenhado para ajudar as pessoas a recordarem aspectos positivos na rotina diária da vida.
Os colaboradores podem ter lembretes diários para escreverem três coisas boas que fizeram parte de cada dia e como os seus papéis específicos contribuem para que isso aconteça.
Através da recordação dos aspectos positivos, os colaboradores começaram a reconhecer eventos recompensadores. Em retorno, essas emoções positivas aumentam a saúde física e mental. A submissão é anónima e os participantes podem visualizar a lista dos outros de coisas boas para depois partilharem a alegria.
Os melhores não têm Burnout
O Burnout vai continuar a ser um desafio que pode afectar qualquer pessoa desde os bancários aos padeiros, mas não tem de ser a realidade do seu local de trabalho.
O Burnout não é um problema das pessoas, mas do contexto organizacional!
Pessoas em locais de trabalho psicologicamente saudáveis tendem a demonstrar maior satisfação geral, melhor saúde física e mental, maior motivação e capacidade de gerir o stress mais eficazmente. É premente saber identificar sinais e sintomas de mal-estar psicológico por parte das pessoas e organizações; apoiar formas de orientação e tratamento; adoptar estratégias organizacionais e pessoais, que contribuam para um ambiente de trabalho saudável, e implementar medidas e campanhas anti estigma nas organizações (Mental Health Foundation of New Zealand, 2016).
Em Portugal os Best Workplaces™ 2019, 85% do trabalhadores reportaram que esperam ansiosamente para irem trabalhar, enquanto a nível mundial ficou numa média de 84%. Além disso, a nível mundial 80% referiram que os seus locais de trabalho são saudáveis emocional e psicologicamente, enquanto que em Portugal foram 82%.
Para descobrir se os seus colaboradores sofrem de Burnout, procure aprender mais acerca da nossa plataforma sobre a experiência dos colaboradores. A nossa pesquisa de Índice de Confiança irá demonstrar como os seus colaboradores se sentem para que possamos implementar as melhores práticas no sentido de assegurar o seu bem-estar.
Este artigo é baseado no trabalho da nosso colega Marcus Erb ( GPTW® US) publicado em janeiro de 2020, leia aqui.
“Para ter um negócio de sucesso, alguém, algum dia, teve que tomar uma atitude de coragem.”- Peter Drucker